Começamos pedindo um favor, não use a emoção para julgar essas linhas, mas sim a razão. Ninguém pode obrigar o outro a crer ou deixar de crer em algo, é uma escolha do indivíduo. No entanto existem realidades que não se limitam ao âmbito da crença, da fé.
O exemplo mais óbvio são as verdades matemáticas, não importa se você goste ou não, o resultado é aquele. No momento em que sua razão compreende isso, você percebe que não há outra maneira, aceitar o resultado se torna uma obrigação para qualquer ser racional.
A filosofia também possui demonstrações, irrefutadas até hoje, que mostram a existência de certas realidades como uma necessidade do próprio real. Negar qualquer uma delas teria como consequência a negação da própria realidade ou da própria possibilidade de conhecer qualquer coisa.
Resumindo, existem realidades que são verdadeiras porque ao assumir princípios evidentes para qualquer ser racional, a conclusão é estritamente necessária, não há escolha aqui quando se compreende o que se está falando e quando há honestidade intelectual do sujeito que analisa a questão; já outras realidades não são auto-evidentes e por isso é preciso querer crer nelas, neste segundo caso, o ponto de partida é a escolha do sujeito de querer crer naquilo, seja algo razoável ou não.
Isso não quer dizer que uma realidade crida necessariamente seja falsa. A mente humana possui uma limitação e por isso podem existir realidades que superem a capacidade da nossa razão, elas podem ser verdadeiras, mas necessitam que você queira crer nelas. Além disso, aceitamos certas coisas porque escolhemos confiar no que os outros nos falam. A única limitação aqui é que não podemos aceitar algo contrário a razão.
Compreendido isso, agora vamos aos problemas. Um problema muito comum, que se agravou muito nos últimos 200 anos, é o fato das pessoas confundirem realidades que são de crença pessoal com realidades auto-evidentes.
A filosofia, especificamente a metafísica, quando fala de realidades auto-evidentes está falando de realidades estritamente necessárias. Ou seja, realidades que existem e não haveria um universo possível em que elas não existissem, nesse sentido essas verdades são mais certas até que as próprias verdades matemáticas.
É nesse sentido que Aristóteles no livro da metafísica demonstra a existência de um motor imóvel, algo necessário e anterior a própria existência como nós a conhecemos. Por isso, sob esse aspecto, a evidência da simples existência de Deus pode ser alcançada pela razão e independe de crença.
É claro que o número de realidades necessárias e princípios auto-evidentes é limitadíssimo. A maioria das coisas que existem e das coisas que imaginamos são contigentes, ou seja, não possuem uma existência necessária.
Essas coisas poderiam existir ou não existir e isso não faria diferença para a coerência do real. Ao negar a existência de uma realidade contingente, não se cai em uma contradição com a própria realidade ou com a própria possibilidade de conhecer. Em princípio, se não há comprovação, você pode livremente acreditar nelas ou não.
Voltemos ao exemplo anterior, podemos demonstrar para qualquer pessoa que a existência de Deus parte de verdades necessárias, a negação dessas verdades resultaria em um absurdo tão grande, que nada mais poderia ser afirmado ou negado e o conhecimento humano seria simplesmente impossível.
Porém, não acontece a mesma coisa quando dissemos que Deus nos ama com um amor pessoal ou que Deus são três pessoas em uma só natureza. Essas afirmações partem de verdades que precisam ser cridas, se a pessoa não quiser crer, ela não vai acreditar nunca. E ela tem liberdade para não crer em nada disso, outros têm total convicção de que essas afirmações são verdadeiras, eles creem.
E isso não se aplica só para verdades religiosas. Existem crenças também no âmbito natural. Na verdade, a maioria das coisas que você acredita é assim. A vida humana seria impossível sem crer naquilo que não temos comprovação.
Quando seu filho vai para escola ou quando você o deixa na porta do colégio, você acredita que ele foi a aula, mesmo sem ter visto ele de fato entrar no colégio ou na sala de aula. O marido ou a esposa quando se despedem de seus cônjuges dizendo que vão ao trabalho, o outro acredita em sua palavra, mesmo que não os veja no trabalho.
É possível que nos 7 anos em que seu filho tenha ido à escola sozinho, ele tenha matado aula e você foi enganado, acreditou em algo que não era verdadeiro. Do mesmo modo, o marido e a esposa em 30 ou 35 anos de casamento podem ter enganado seus cônjuges alguma vez quando disseram que iam ao trabalho e não foram. Mas também é possível que seu filho e seu cônjuge nunca tenham te enganado mesmo em todos esses anos.
Um argumento que poderia ser usado para causar a discórdia em um matrimônio é o seguinte, “Não é possível que em 35 anos de casados, ele nunca tenha te traído”. Essa premissa não possui nada de necessário e auto-evidente, por tanto, é perfeitamente possível sim que seu cônjuge nunca tenha te traído mesmo em 35 anos.
Explicado isso, chegamos aos OVNIS. O que mais incomoda em toda essa discussão é o fato das pessoas que acreditam na existência de seres inteligentes fora do planeta Terra tratarem disso como uma verdade necessária e auto-evidente.
Se você prestou a atenção em tudo que foi dito até aqui, perceberá que o argumento “O universo é tão grande, não é possível que só haja vida inteligente neste planeta” é completamente furado. Qual a premissa necessária e auto-evidente contida nesta frase? Nenhuma.
Preste bem atenção, não está em discussão aqui se existe ou não vida extra terrestre, mas se a existência de vida extra terrestre é uma realidade necessária. E a resposta é um sonoro não. Não há nada que implique em uma necessidade da existência de vida extra terrestre.
Sim, você é livre para acreditar nisso, mas isso fica no nível de crença, não é absurdo que alguém hoje acredite que não exista vida extra terrestre. Poderíamos até discutir se a postura mais natural seria a de não acreditar na existência de vida extra terrestre até que fossem descobertas evidências fortes sobre isso. Mas aqui ficaremos apenas com a liberdade de escolha de cada um sobre o assunto.
E podemos ir um pouco mais além neste debate. Se você é um adepto do argumento sobre a imensidão do universo e que “por isso” tem que existir vida fora daqui, então queremos lhe convidar a meditar sobre um ponto e lhe mostrar que o seu argumento pode ser invertido contra você.
Provavelmente você acredita nas teorias científicas mais recentes sobre a origem e o desenvolvimento do nosso universo e sobre a origem e o desenvolvimento da vida. Não analisaremos se essas teorias são verdadeiras ou não, vamos assumir como hipótese para este debate que elas são verdadeiras, ok?
Se universo nasceu com o Big Bang tal como se acredita hoje, porque isso também não é uma premissa necessária e auto evidente, então qual seria o tamanho que o universo precisaria ter para que houvesse vida, ainda que fosse em um único planeta?
Diz-se que o Big Bang foi uma explosão de forças que deu origem ao nosso universo. A partir daí o universo começou a se expandir, não só isso, os estudos das últimas décadas mostraram que o universo está se expandindo de maneira acelerada, ou seja, cada vez mais rápido.
Segundo a teoria do Big Bang no momento inicial não teríamos sequer as subpartículas, mas algo anterior. Por tanto o universo foi se expandindo até que começaram a surgir as primeiras subpartículas.
Depois surgiriam elétrons, prótons e nêutrons; e o universo continua expandindo. Depois de mais algum tempo, surgiriam os primeiros átomos como o hidrogênio e o hélio; e o universo continua expandindo. Depois as primeiras estrelas, que seriam imensas; e o universo continua expandindo.
Depois de milhões de anos essas estrelas imensas colapsariam, formariam estrelas menores e em algum momento os primeiros planetas; e o universo continua expandindo.
Hoje a NASA acredita que o primeiro planeta teria sido formado depois de 1 bilhão de anos que o universo foi criado. É claro que aqui não haveria possibilidade de vida, esses planetas são principalmente composto de gases e se tivessem um pouquinho mais de massa teriam virado pequenas estrelas.
Para que surja vida, como se entende hoje, é necessário ter vários tipos de elementos. Hoje acredita-se que elementos mais pesados (elementos diferentes de hélio e Hidrogênio) se formam dentro das estrelas, quanto mais super novas acontecerem, mas tipos diferentes de elementos nós teríamos. Por tanto, um planeta com potencial para surgir vida seria um planeta formado junto com estrelas de segunda ou terceira geração; e o universo continua expandindo.
Além disso esses planetas nasceriam inicialmente com condições muito extremas que não permitiriam o surgimento da vida em um primeiro momento, mas se tudo sair como esperado, depois de milhões de anos o primeiro organismo vivo surgiria; e o universo, é claro, continua expandindo.
Assim, se tudo desse certo da maneira mais perfeita possível, ainda que fosse em um único planeta, quando a primeira vida surgisse, teríamos que ter um universo imenso, que já teria expandido por pelo menos alguns bilhões de anos.
Ou seja, aqueles que não acreditam em vida extra terrestre poderiam inverter o argumento e dizer tranquilamente, a vida só pode existir, mesmo que fosse em um único planeta, porque o universo é tão grande.
Tudo que está sendo falado aqui está no nível de opinião e se refere a coisas que poderiam ser de um jeito ou de outro. O importante é perceber que não há nenhum peso argumentativo na alegação de que o universo é tão grande e por isso teria que ter vida em vários lugares.
Alguém poderia dizer, “mas se você não acredita em vida extra terrestre, o que está acontecendo no mundo recentemente com todas essas notícias de OVNIs”?
A resposta para isso não tem nada a ver com o que foi explicado acima, mas com outro processo extremamente complexo: a tentativa de criação de um governo mundial.
Resumindo em um tuíte, a melhor maneira de convencer as pessoas a aceitarem a instituição de um governo mundial é mostrando a existência de uma ameaça global. Aí vale tudo, desde mudanças climáticas até uma invasão alienígena. Se as coisas forem bem feitas, as pessoas ficarão com tanto medo, que não só aceitarão um governo mundial, mas exigirão a criação de um para protegê-los.
Fontes com dados científicos:
https://www.nasa.gov/multimedia/imagegallery/image_feature_76.html
https://earthsky.org/space/how-and-when-did-the-first-planets-form-in-our-universe/
https://www.space.com/52-the-expanding-universe-from-the-big-bang-to-today.html